Eu não vou me aprofundar no tema do domínio da Abril sobre a distribuição de revistas que fica mais apertado a cada dia que passa, principalmente agora que os grupos ramificados se uniram sob nome de Total Express. O Judão fez uma excelente matéria dizendo tudo isso, como esse monopólio pode afetar o mercado brasileiro e como algo semelhante foi vivenciado pelo mercado estadunidense no anos 2000 com a Diamond.
Você, bróder, que acha que se por algum motivo as HQs sumirem das bancas é uma coisa boa (acredite em mim, isso pode sim acontecer, pois nos Estados Unidos os gibis praticamente não existem mais em bancas. Eu não estou inventando isso. Pode procurar e vai achar essa informação, inclusive eu mesmo vou te linkar aqui um texto do Universo HQ explicando como funciona o mercado de quadrinhos estadunidense pra você ter certeza que não estou escrevendo abobrinhas), tire seu cavalinho da chuva. Eu vou dizer como que isso pode ser algo terrível pra gente.
No final de 2016 o Planeta Gibi publicou uma matéria mostrando quanto cada título vende no Brasil e ainda faz um paralelo com quanto se vendia em 1975. Isso te mostra que mesmo tendo toda exposição possível, quadrinhos não vendem tanto assim (tirando Turma da Mônica, claro) e com isso estamos considerando revistas mensais cujas as tiragens são enormes. Se você considerar os encadernados, cujas tiragens são bem menores, ainda mais para editoras independentes, isso é mais preocupante.
A banca sempre foi um lugar bem eclético incluindo gostos e publicações de todos os tipos. Ali você ia encontrar do colecionador de quadrinhos ao leitor casual que vai comprar algo pra ler na fila do banco. Muitos dos amantes de quadrinhos de hoje começaram a ler quando criança com os pais indo à bancas e pegando um título aleatório para manter o filho ou filha entretido(a). Eu mesmo quando pivete, não tinha o hábito de ler quadrinhos como tenho hoje em dia, no entanto sempre que viajava com minha família para outro estado, na parada do ônibus para todo mundo almoçar, minha mãe me comprava uma HQ para me distrair. Eu não tinha o costume de acompanhar os títulos que saíam, então ela comprava literalmente qualquer coisa pra mim.
Esse é o tipo de venda que acontece em banca de jornal. Ela não vende quadrinhos apenas para fãs e colecionadores, mas também para gente que compra uma vez aqui e ali, algo que não vai acontecer se os gibis saírem de banca. Claro que talvez isso seja fantástico para você que compra revistas como eu, à toque de caixa, mas pra editora isso pode ser um tremendo chute no saco, já que ela vai ter que se focar agora num público muito menor, perdendo a visibilidade de quem simplesmente é um leitor ocasional.
Talvez tenhamos que amargar títulos mais caros, pois as tiragens podem diminuir ainda mais. Talvez as editoras tenham que largar a mão de publicações mensais. Talvez muita coisa possa acontecer. Talvez até comic shops novas consigam surgir disso, mas eu posso dizer com certeza que se quadrinhos saírem das bancas... É bem provável que os leitores de quadrinhos não se renovem mais.
Comentários
Postar um comentário